Utopia possível
Thomas
More, estadista e pensador inglês do século XV, imaginou a sociedade ideal. Deu
forma às reflexões na célebre obra denominada Utopia (do grego: “lugar
nenhum”). Nesta, More projetou uma
civilização que teria superado todas as imperfeições de ordem moral e social,
vivendo a felicidade que provém de leis justas e costumes igualitários.
Presume-se que, a exemplo de tantos outros homens de gênio, desde remotas eras,
Thomas More era profundamente insatisfeito com as mazelas da sociedade de sua
época, o que o levou a satirizá-la em seus escritos.
Séculos
antes, Platão já visualizava uma humanidade regida por princípios que, a seu
ver, seriam os mais adequados para prover a paz e a ordem. É o que se pode
depreender de seus diálogos, especialmente de A República e também da inusitada
narrativa sobre o reino de Poseidon.
Quase
na mesma época de Thomas More, outro personagem ilustre também deixou
consignado em uma obra o seu ideal de civilização. Esse homem foi Francis Bacon
(1561 – 1626), filósofo, místico, estadista, que, entre outras coisas,
organizou a língua inglesa. Seu livro, “Nova Atlântida”, pode ter sido a fonte
de inspiração para os colonizadores da América, que viram a possibilidade de
fundar no novo continente as bases da Nova Ordem prevista por Bacon.
E
hoje? Na velocidade da luz, as informações atravessam continentes; incontáveis
engenhos espaciais orbitam o planeta ou cruzam o sistema solar, colhendo
milhões de dados que enriquecem a ciência; a medicina realiza prodígios
inconcebíveis há menos de meio século. Nem por isso o homem é mais feliz do que
no passado distante. Como sabê-lo?
Basta
que consideremos o custo de uma guerra. Todos os países, por mais ricos e
civilizados que sejam, têm problemas sociais de diversas naturezas, muito deles
dependendo principalmente de dinheiro para serem solucionados. Mas uma bomba de alta potencia, ao explodir,
não destrói apenas o inimigo; queima consigo alguns milhares de dólares que
dariam, confortavelmente, para construir uma escola ou aparelhar um hospital.
Qual é o preço de um caça moderno? Ou um tanque? Um submarino? São bilhões que
permanecem estagnados, servindo unicamente para manter o equilíbrio do medo.
Hoje,
a imensa maioria das pessoas também alimenta uma utopia, uma “Nova “Atlântida”;
um tempo em que, finalmente, o homem deixe de ser lobo do homem e a felicidade
seja a única lei a ser rigorosamente cumprida. O bom senso, porém, nos diz que
não há como ser feliz às custas do sofrimento e da privação de outrem, de modo
que a construção desse novo tempo implica na reeducação interior. Precisamos
rever os conceitos de liberdade, justiça, direito, propriedade, hierarquia e
todos os balizamentos éticos que têm sustentado de forma precária o mundo em
que vivemos, para que a nova ordem da humanidade seja a somatória da renovação
individual.
É
saudável que alimentemos uma utopia. Melhor ainda se for alicerçada em
princípios universais, e que encontre ressonância no íntimo da alma, como a
linguagem sem palavras que nos fala da grandiosidade da obra Divina em cada
grão de areia e em cada astro do Cosmo.
Os
Rosacruzes, homens e mulheres devotados ao progresso e à felicidade pela
conquista do conhecimento das leis naturais e cósmicas, também têm sua Utopia, que
transcreveremos para sua reflexão.
Utopia Rosacruz
Deus
de todos os seres humanos, Deus de toda vida, na Humanidade com que sonhamos
Os
políticos são profundamente humanistas e trabalham a serviço do bem comum.
Os
economistas gerem as finanças dos Estados com discernimento e no interesse de
todos,
Os
sábios são espiritualistas e buscam sua inspiração no Livro da Natureza,
Os
artistas são inspirados e expressam em suas obras a beleza e a pureza do Plano
Divino,
Os
médicos são motivados pelo amor ao próximo e cuidam tanto das almas quanto dos
corpos,
Não
há mais miséria nem pobreza, pois cada qual tem aquilo de que precisa para
viver feliz,
O
trabalho não é mais vivenciado como uma coerção, mas como uma fonte do
desabrochar e de bem-estar,
A
natureza é considerada como o mais belo dos templos e os animais como nossos
irmãos em via de evolução,
Há
um Governo mundial, formado pelos dirigentes de todas as nações, trabalhando no
interesse de toda a Humanidade,
A
espiritualidade é um ideal e um modo de vida que têm sua fonte numa Religião
universal, baseada mais no conhecimento das leis divinas do que na crença em
Deus,
As
relações humanas são fundadas no amor, na amizade e na fraternidade, de modo
que o mundo inteiro vive em paz e harmonia.
Assim
seja!
Auro
Barreiros
19/1/2012
(Artigo
publicado na Folha de Rondônia- Ji-Paraná, RO)