quarta-feira, 24 de abril de 2013

A COMPAIXÃO E O MISTICISMO



É raro o dia em que os meios de comunicação não mostrem o sofrimento humano em suas cruéis e variadas nuances.  Tragédias urbanas, acidentes, episódios de violência, afiadas lâminas que decepam laços de amor longamente acalentados.  A grande ironia está justamente na forma como a informação é trazida. Os telejornais, recheados de dramas, invadem a tela entre um programa de humor e uma novela, ou uma partida de futebol.  Tão logo terminam, a atenção do telespectador é desviada para as amenidades da ficção ou o riso fácil, amortecendo o impacto das notícias deprimentes.
E assim, dia após dia, o ser humano vai perdendo a sensibilidade à dor alheia.

Para o místico, esse é um dos maiores prejuízos que a modernidade pode infligir ao homem.  Amortecer a compaixão é desconhecer um dos princípios fundamentais da concepção mística de Deus: a alma humana é parte indissociável da Alma do Cosmo, o que faz com que todo ser esteja ligado a outro, numa cadeia infinita. Pelos limites da individualidade, tendemos a sentir menos o que não nos afete diretamente. Talvez por isso a fome que mata silenciosamente milhões de pessoas em certas regiões do mundo não tire o sono do cidadão comum, ainda que este professe valores religiosos e morais elevados. Talvez o desfile de ruínas humanas produzidas pelas drogas, hoje em escala epidêmica, não abale as estruturas emocionais de quem não convive com o problema no próprio lar. Para quem vive num país como o nosso, a ideia de não se ter a liberdade de opinião, crença ou mesmo o elementar direito de ir e vir é algo que soa meio surreal. Mas toda essa miséria moral existe e afeta milhões de nossos semelhantes em todo o planeta; muitas vezes, bem mais próxima de nós do que imaginamos, podendo estar do outro lado da rua ou na casa do vizinho.

A mente racional aponta razões políticas, a corrupção e o descaso das autoridades constituídas como causa dos problemas sociais. Cobra responsabilidades e cria fórmulas que, teóricamente, seriam capazes de solucionar as crises. Mas e experiência demonstra que qualquer tentativa de minorar o sofrimento humano passa primeiramente pela porta da compaixão.

A compaixão é definida como um desejo emocional de aliviar o sofrimento de outrem. É um impulso interior, provavelmente inspirado pelo estreito parentesco que une todas as almas à Grande Alma do mundo.  O ser compassivo sente, de alguma forma, a dor do outro; não físicamente, mas psíquicamente, de um jeito para o qual não há palavras suficientes. É, porém, uma percepção intensa o bastante para dar origem a benfeitores como Gandhi, Madre Tereza de Calcutá, e outros milhares de heróis anônimos, capazes de devotar tempo, inteligência, trabalho e vida ao esforço de reduzir as mazelas que atormentam a humanidade.

 Certamente um bom exercício para estimular a compaixão é desligar a tevê logo após uma notícia trágica e procurar perceber o que se passa em nosso interior. Como o coração reage à imagens de pessoas sofrendo?  Estabelecemos alguma empatia? Temos condição de imaginar-nos em situação idêntica à das vítimas de qualquer tragédia? Somos capazes de formular pensamentos e sentimentos de amor destinados às pessoas que sofrem? Lembramo-nos de rogar a Deus, conforme nossa concepção, pelo alívio e consolo dos desafortunados?

Esta é uma forma mística de compreender e exercitar a compaixão. Com a repetição, é possível aprimorar os sentimentos e encontrar maneiras de ser compassivo e colaborar para que a humanidade seja mais feliz.  


Auro Barreiros

Janeiro, 2012

terça-feira, 2 de abril de 2013

VIDA, NATUREZA E HUMANIDADE



Neste mês de março aconteceu o Dia Mundial da Água. Resultado da preocupação do mundo científico em relação a esse elemento vital, naquele dia houve discussões, palestras, propostas e cobranças de diversos segmentos da sociedade da maior parte dos países. Ainda que, mesmo numa questão que envolve a sobrevivência da espécie humana, os interesses políticos dividam opiniões, parece que há algum consenso em que a preservação da água é responsabilidade de todos, além-fronteiras. Há o temor de que essa consciência tenha chegado tarde e que os danos provocados pela poluição tenham comprometido definitivamente grande parte dos mananciais, o que torna ainda mais dramática a situação.

O paradoxo é que, desde o princípio, o homem depende da água; para a formação de seu corpo, para a manutenção de suas atividades fisiológicas, para a germinação e crescimento das plantas que o alimentam. Mais ainda, em função de suas necessidades básicas, foi às margens de rios e mares que o ser humano se estabeleceu e civilizou-se. Aprendeu a navegar e expandiu fronteiras comerciais e culturais, responsáveis por grande parte da evolução da humanidade. No entanto, alguns milênios transcorreram antes que essa relação entre água, natureza e vida trouxesse a compreensão da necessidade do equilíbrio e da preservação.

Natureza e vida se entrelaçam, de forma tão íntima que não se toca em uma sem abalar a outra. O místico entende que tudo no universo se encadeia numa ciranda de causas e conseqüências. As leis dessa mesma natureza atuam nos elementos, destruindo e reconstruindo as formas e manifestações, no eterno vir-a-ser vislumbrado por Parmênides. Então, como conciliar as necessidades humanas com a preservação da ordem natural das coisas?

A Ordem Rosacruz, em seu 4º Manifesto – Positio Fraternitatis, declara que ” (...) é evidente que a sobrevivência da espécie humana depende de sua aptidão para respeitar os equilíbrios naturais. O desenvolvimento da Civilização gerou muitos perigos decorrentes de manipulações biológicas relativas à alimentação, à utilização em grande escala de agentes poluentes, à acumulação mal controlada de resíduos nucleares, para citarmos apenas alguns riscos principais. A proteção da Natureza e, portanto, a salvaguarda da Humanidade, tornou-se uma questão de cidadania, ao passo que antes só dizia respeito aos especialistas. Ademais, ela se impõe doravante no plano mundial. Isso é ainda mais importante porque o próprio conceito de Natureza mudou e porque o Ser Humano está se sentindo parte integrante dela; não se pode mais falar, hoje em dia, em Natureza em si mesma. A Natureza há de ser, portanto, aquilo que o Ser Humano queira que ela seja”.

Ou seja, a engenhosidade da mente humana, que tanto já realizou no campo da ciência, deve encontrar formas equilibradas de se alimentar, se vestir, se transportar e habitar, que não extrapolem o poder de regeneração do ambiente. Em conseqüência, o homem precisa rever seus conceitos de necessidade, descartando os usos e consumos que nada acrescentem à sua existência, seja em relação à sobrevivência ou à satisfação de seus ideais de conforto, desfazendo-se das necessidades criadas pelas imposições dos costumes e da mídia.

Lembremo-nos que a natureza já é atualmente o que as gerações anteriores quiseram que fosse. Reflitamos.


(Os conceitos do presente texto são da responsabilidade de seu autor, não representando necessariamente a posição oficial da AMORC, exceto onde isso esteja explicitamente declarado.)

Para saber mais a respeito da Ordem Rosacruz – AMORC, acesse o site oficial: www.amorc.org.br ou procure um Organismo Afiliado à AMORC (pronaos, capítulo ou loja) em sua cidade.
O Pronaos Rosacruz Ji-Paraná – AMORC é localizado na Rua Miguel Ludke, 1.136 – Jardim Aurélio Bernardi II.

Auro Barreiros é redator publicitário e atual Mestre do Pronaos Rosacruz Ji-Paraná – AMORC.