Conforme indica a Sabedoria dos Tempos, o Cosmo, com tudo o
que contém, é cíclico. Desde o mundo subatômico até as vastidões inconcebíveis
à mente humana, toda a realidade se move segundo ciclos que se encadeiam continuamente,
numa gigantesca ciranda de causas e consequências. Apoiando-se nessa concepção,
não é exagero pensar que a queda da folha de uma árvore afeta a perpetuação da
vida em nível microscópico e que isso por sua vez, tem relação com o restante
das manifestações de vida em um planeta.
E quando se fala em vida, surge de imediato a lembrança da
vida humana, a nossa vida. Ai que parece, somos a espécie que mais se dá conta
da própria individualidade. E somos também a espécie que mais drasticamente
interage com o ambiente em que habita, junto com os demais seres vivos. Graças
aos dotes de raciocínio, observação e assimilação das experiências,
desenvolvemos habilidades que nos permitem alterar condições naturais para
atender o que acreditamos serem as nossas necessidades. E como essa crença nem
sempre corresponde à realidade natural, provocamos profundos desequilíbrios
ambientais, que findam por interferir negativamente na qualidade da vida que
tanto defendemos.
A criação e manutenção dos padrões de existência confortável
exige poder econômico; isso motiva problemas aparentemente incontroláveis, como
o consumismo, a especulação financeira e a guerra. Sim, pois é impossível fazer
uma guerra sem dinheiro! Armas custam caro, aviões e navios idem. Logo, por
trás de motivações políticas e ideológicas há sempre a extraordinária
movimentação de fortunas para o custeio dos conflitos.
E chegamos ao ponto crucial dessa argumentação: por que o ser
humano não se satisfaz? Por que os valores éticos são relativizados quando está
em jogo o poder? Por que não tem sido possível vivenciar a verdadeira paz na
Terra? De que nos valeu a espantosa tecnologia que já desenvolvemos e que nos
facultou a conquista do Espaço, se somos ainda incapazes de dominar o nosso
“espaço” interior? Tendo como real a Lei de Compensação, qual será o resultado
de nossas presentes ações e omissões?
Diante de tais indagações, devemos voltar à Lei dos Ciclos.
Assim como a semente germina em certo tempo, segundo a sua espécie, o que o
homem semeia através de suas atitudes também tem um tempo para germinar e dar
frutos. Por exemplo, o lixo que a civilização produz e que por milênios foi
despejado no meio ambiente, é agora uma das maiores preocupações dos países mais
ricos, que dispõem de conhecimento suficiente para saber que a saúde de seus
cidadãos está ameaçada pelos mesmos rejeitos que foram produzidos pela sua
incessante busca de conforto e sofisticação. No atual ciclo, um dos principais desafios
do homem é cuidar do próprio lixo!
Mas, ainda que se encontre uma solução tecnológica para a
questão do lixo, ainda restam outros problemas que, por serem inerentes à
natureza humana, não serão solucionados por computadores; ganância, sede de
poder, intolerância, preconceito, egoísmo, são os amargos frutos da ignorância
do homem a respeito de si mesmo. Suas
mais evidentes consequências aparecem sob as formas de ansiedade, transtornos
emocionais, estados depressivos, conduta violenta, crises existenciais, um
vasto repertório de efeitos de uma só causa: ausência de paz.
Da mesma forma que o Cosmo, o mundo interior também obedece a
ciclos de semeadura, germinação e frutificação dos hábitos mentais e emocionais
cultivados ao longo da vida, ainda que não tenhamos consciência disso. A essa
inconsciência costumamos dar o nome de “destino”.
É possível mudar isso? Podemos nos livrar do resultado de uma
vida de cultivo de ervas daninhas?
Sim, é possível mudar a qualidade da colheita futura a partir
de boas sementes plantadas agora. Pode-se, gradualmente, modificar o ecossistema
interior e estabelecer um padrão de harmonia mental e emocional, que se reflete
na conduta e no trato com o semelhante.
Assim como o astrônomo usa o telescópio para vasculhar o céu,
o homem que busca a paz interior se vale de seus instrumentos naturais para
explorar a si mesmo. A reflexão é uma dessas ferramentas. Refletindo, pode-se
extrair das experiências o conteúdo de sabedoria nelas oculto. Refletindo, no
exercício da liberdade de consciência, pode-se incorporar a sabedoria adquirida
à personalidade, eliminando falhas comuns do caráter, criando novas e
apropriadas formas de sentir e de agir, para que o semear seja fecundo e doces
os frutos.
A Lei dos Ciclos é evolutiva. A cada périplo, toda realidade
ascende a um novo patamar. Assim, quando o homem busca a compreensão de si
mesmo e sua relação com a Lei Maior, o mesmo acontece com ele; sua consciência
se eleva, seus horizontes se ampliam, seu coração se agiganta. O buscador
assimila a lição fundamental: somos responsáveis pela nossa felicidade.
A propósito, vale lembrar aqui algumas das sábias palavras de
Ralph Lewis, ex-Imperator da Ordem Rosacruz – AMORC:
CREDO DA PAZ
Sou responsável pela guerra...
Quando orgulhosamente faço uso da
minha inteligência para prejudicar o meu semelhante.
Quando menosprezo as opiniões alheias
que diferem das minhas.
Quando desrespeito os direitos
alheios.
Quando cobiço aquilo que outra pessoa
conseguiu honestamente.
Quando abuso da minha superioridade de
posição, privando outros de sua oportunidade para progredir.
Se considero apenas a mim próprio e
aos meus parentes pessoas privilegiadas.
Quando me concedo direitos para
monopolizar recursos naturais.
Se acredito que outras pessoas
devem pensar e viver da mesma maneira que eu.
Quando penso que sucesso na vida depende
exclusivamente do poder, da fama e da riqueza.
Quando penso que a mente das pessoas
deve ser dominada pela força e não educada pela razão.
Se acredito que o Deus de minha
concepção é aquele em que os outros devem acreditar.
Quando penso que o país em que
nasce o indivíduo deve ser necessariamente o lugar onde ele tem de viver.
Sou
responsável pela paz...
Se direciono correta e
construtivamente os poderes da minha mente.
Se concedo ao meu semelhante o direito
pleno de se expressar, de acordo com o seu próprio entendimento das verdades da
vida.
Se reconheço que os meus direitos
cessam quando iniciam os direitos dos outros, e aceito isso com um mínimo
indispensável de disciplina.
Se faço uso dos meus poderes
interiores para criar minhas próprias oportunidades.
Se consigo promover a evolução
dos que me cercam, sem considerar a minha posição ameaçada, e entendo que esta
é a minha maior fonte de sucesso.
Se compreendo que as LEIS DIVINAS
diferem das leis criadas pelo Homem, e que nenhum direito divino especial é
concedido a alguém unicamente por seu berço.
Se reconheço que os recursos
naturais devem servir indistintamente a todas as formas de vida, e que não me
cabem direitos exclusivos sobre eles.
Se compreendo que nada é mais
livre do que o pensamento, e que o pensamento construtivo transforma o Homem
direcionando-o para a sua verdadeira meta.
Quando sinto que toda felicidade
depende do simples fato de existir... de estar de bem com a vida.
Se percebo que todo ser humano
poderá vir a ser um grato amigo, quando convencido pela argumentação sincera.
Se considero que a Alma de Deus
adquire personalidade no Homem, e que este só pode conceber Deus a partir de
sua própria percepção da Divindade.
Se reconheço a mim e ao meu
semelhante como partes integrantes do Universo, e que a cada um cabe a busca do
lugar onde melhor possa servir.
Se estou em PAZ, eu promovo a PAZ
dos que me cercam. Por sua vez, eles promovem a PAZ daqueles que estão à sua
volta e que também farão o mesmo.
Então, a PAZ começa
por mim! E sem ela não pode haver a necessária transformação social.
Auro Barreiros, FRC
dezembro de 2015